Promessa

Posted: sexta-feira, 30 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in
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Pode parecer estranho, clichê, mas eu tentarei.
Tudo é turvo diante dos meus olhos e confuso dentro da minha mente, mas eu vou em frente.
Eu sei que nesse baile de máscaras, onde nada é o que parece, eu encontrarei você.

Eu vejo tristeza nos seus olhos, eu vejo um pesar. Eu colocarei as estrelas nos seus olhos.
Você pode nem querer mais saber, mas eu estarei com você enquanto o mundo cai.
I promisse.

Pin-up -- ego *-*

Posted: by Fernanda Thavellik. in
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Pin-up é aquela mulher sexy e inocente. É ao mesmo tempo, sexy o bastante para dar vontade de pendurar a foto dela na parede (pin-up em inglês). Inocente o suficiente para deixar a foto lá sem risco de atentado à moral e aos bons costumes. Uma combinação sutil que vem sendo refinada desde aqueles pôsteres de Toulose-Lautrec com as dançarinas do Moulin Rouge.

Layne Staley

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Ele sim... devia ser lembrado, hehe.

Blue Sky Mind

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Olho pra esse céu azul. Ele costuma inspirar as pessoas, mas não consegue me inspirar. Olho pra esse imenso céu azul e só consigo me ver miseravelmente sozinha, sentada aqui nesse banco às oito da manhã, refletindo. Só vejo a minha tristeza afogada no meu orgulho. Olho pro sol agora, e meus olhos doem, porque sinto falta do meu herói comigo. Vejo o brilho dos seus olhos, como holofotes, como o próprio sol. Olho em volta e só vejo a vida previsível de cada uma dessas pessoas que passam na rua agora. Olho pra dentro de mim mesma e o calor morno do sol me aquece. Estou tão blue quanto o céu.

Conversa de casal...

Posted: terça-feira, 27 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in
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ela - ah, eu te amo 
ele - não, eu te amo mais. 
ela - não! eu te amo mais e pronto!
ele - jokenpô???
*ele papel, ela tesoura* 
ela - haha, ganhei! 
ele - então quer dizer que eu amo mais.
ela - ué... por que? se foi eu que ganhei... 
ele - porque quem ama mais, sempre sai perdendo...

Carta da rebel girl ao seu inconsciente - sua memória

Posted: sábado, 17 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in Marcadores: ,
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"Eu nunca vou chegar nesse tom! Parece que minha garganta vai abrir."
"Calma... Nunca você vai ouvir de mim uma coisa que seja impossível de fazer..."
Então depois disso, consegui o tom perfeito, e cantei "Heart Shaped Box" do nirvana com performance invejável...

Me lembro de ter conhecido (eu o chamo de "Kurt", vocês podem chamar do que quiserem...) o Kurt, e me lembro de ter um pouco de receio. Era uma pessoa simples, em todos os sentidos. Roupas simples, aparência simples, só não tinha barba pra fazer porque ainda não tinha idade. Embora tivesse uma aparência simples, quase messiânica, era uma pessoa de profundidade moral completamente invejável. Eu o chamava de Kurt porque sua aparência suja e os cabelos lembravam muito o que o Kurt Cobain era. A imagem de ídolo também era a mesma.

Me lembro do humor negro, e da mania de avaliar as pessoas a fundo só pela expressão dos seus rostos. As vezes era verdadeiro. Ele buscava os olhos das pessoas e via a tristeza, a falta de caráter, ou a lealdade, a amizade. Nos meus olhos ele dizia que via uma fortaleza "Sua orgulhosa! devia olhar para si mesma, esbanjando tuuuuuuuuuuudo isso que você tem... Ia se apaixonar por você mesma" e ria depois.
Ele tinha as vezes piadas que só ele entendia, ou que só ele achava graça. Mas não deixava de ser engraçado quando falava com toda a paciência do mundo "Ei, vai dar certo, menos ansiedade senão você vai morrer!". Como disse, tem piadas que só ele ri.

Mas gostaria de lembrar dessa figura como o que me fez tomar meu lugar. O meu lugar como Fernanda.




Valeu cara, embora não possamos nos falar mais...



Para Kurt, ou algo parecido...

"Welcome to the hell"

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Família linda (pra quem vê de fora). Todo mundo acha a família muito unida, mas não quer estar lá na casa deles pra ter certeza. Imagina uma família que faz de tudo pra se mostrar bonita nos feriados, quando tem aquelas reuniões de familia clichês de sempre. Eles sempre querem se sobressair porque um filho toca violão muito bem, o outro vai muito bem na escola, eles estão há muito tempo juntos e a sobrinha dá um exemplo de educação quando vem da pqp pra casa deles.
Mas o fato é que o filho que toca violão nao toca na frente deles porque tem mais o que fazer, o filho que vai bem na escola está ainda na terceira série, eles brigam todos os dias e já estão pra se separar e a sobrinha educada na verdade é uma vagabunda de primeira.
Será que estamos vivendo um tipo de "Pequena Miss Sunshine", só que ainda mais dramático???
Enquanto espero sem pressa a resposta dessa pergunta só me resta dizer "welcome to the hell"...

Carta da rebel girl ao seu herói

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O que eu poderia ser pra você, oh meu herói? Você é tudo pra mim, tudo o que eu tenho e que realmente importa é você. Se você é tudo pra mim...O que eu seria pra você? De que a minha presença serviria pra você, meu querido e amado herói?
Eu poderia ser uma mãe, pra te dar broncas de vez em quando, e uma filha para receber umas também, porque ninguém é perfeito. Poderia ser uma criança pra docemente cair em seus braços e adormecer, e também uma mulher, forte e corajosa, enfrentando todo tipo de coisa pra ficar ao seu lado. Poderia ser tão comportada quanto uma lady, e assim conquistar você a cada dia mais, assim como poderia ser tão sexy quanto você bem sabe...
Eu poderia ser tudo, e eu posso. Só pra você, só pra te agradar.
Posso te afirmar que antes de você nunca houve ninguém que me compreendesse tanto como você, que fosse tão bom para o meu ego. E, depois de você, não haverá ninguém, simplesmente. Porque você é a unica coisa que me faz sorrir em um dia triste.
Com você eu sou feliz durante o dia, porque eu sei que alguma hora você vai me ligar ou passar uma mensagem, e-mail, e sei que estará sempre alí, esperando eu chegar. Sou ainda mais feliz durante a noite, que por si só é solitária, porque quando durmo sempre sonho com você, e mesmo que não durma, eu estarei pensando em você com carinho da mesma forma.
Eu espero ser tudo aquilo que você quer, e mais do que isso: tudo aquilo que você realmente precisa. Porque pra mim você é tudo aquilo que eu sempre sonhei, tudo o que eu sempre imaginei para compartilhar o resto dos meus dias. Você é o meu ego, meu ar, minha fortaleza, meu sonho e minha realidade. Mas além de tudo isso, você é ainda mais importante: você é o meu HERÓI, muito melhor do que qualquer herói que já passou pelos meus olhos. Você é um herói de verdade. E eu te admiro de um jeito único.
Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

                    "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"
E eu te amo Ygo, cada dia, como se não houvesse um amanhã. Todos os dias. Pra sempre. Eternamente.

Você é Junkie quando...

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Se você só sabe viver fora de regra, almoça às 4h da manhã, janta às 11h, sai pra comer de madrugada, dorme a tarde inteira e não acorda antes das 6h da tarde.

Se você deixa toda crítica entrar por um ouvido e sair pelo outro, principalmente quando reclamam das suas unhas mal-pintadas, maquiagem borrada ou meia-calça rasgada.

Se você não se assusta mais ao ser abordado por desconhecidos que sabem até o nome do seu papagaio sem asa e que não cansam de falar do vexame que você deu num bar que nem sabe qual é.

Se você não dá a mínima pra essa tal de 'geração saúde', já trocou seu coração por um fígado, só tem flashbacks da noite anterior e fica sabendo tudo o que aprontou pelos amigos.

Se você também sai à noite, sem destino e sem companhia, se enfia nos piores buracos da cidade e ainda volta pra casa de manhã gargalhando sabe-se Deus do quê...


Éééé...Você é Junkie também :*

Quanto vale um erro?

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"coração na mão como um refrão de bolero.."

  Erros.
Se você não cometeu um erro você não vive. Você vegeta e ponto.
Dizem que é errando que se aprende... Mas até onde se aprende com eles?

"e um erro assim tão vulgar...
nos persegue a noite inteira
e quando acaba a bebedeira 
ele consegue nos achar num bar"¹

Até onde nós aprendemos? e o quanto sofremos... Não importa?
Dizem que o aprendizado "é pelo amor ou pela dor", mas não sabemos quando é que vem esse amor que tanto se fala. Só sabemos que quando se erra, não tem mais volta. 

"...com um vinho barato um cigarro no cinzeiro
e uma cara embriagada no espelho do banheiro"

Quem nunca se deparou com essa situação? Quem nunca foi ao fundo do poço devido aos seus erros? Quem nunca ficou doente de amor²?? quem nunca sofreu, levante gentilmente a mão.


Ninguém?
Eu disse.


Notas:
1. vide música "refrão de bolero" - engenheiros do hawaii
2. quadro: doente de amor - george grosz. o perfeito retrato da música acima.

A mulher mais linda da cidade...

Posted: sexta-feira, 16 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in
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É longo, mas vale a pena....

A mulher mais linda da cidade - Bukowski 
Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.
As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos – “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado… Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.
O pai havia morrido alcoólatra e a mãe fugira de casa, abandonando as filhas. As meninas procuraram um parente, que resolveu interná-las num convento. Experiência nada interessante, sobretudo para Cass. As colegas eram muito ciumentas e teve que brigar com a maioria. Trazia marcas de lâmina de gilete por todo o braço esquerdo, de tanto se defender durante suas brigas. Guardava, inclusive, um cicatriz indelével na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.
Conheci Cass uma noite no West End Bar. fazia vários dias que tinha saído do convento. Por ser a caçula entre as irmãs, fora a última a sair. Simplesmente entrou e sentou do meu lado. Eu era provavelmente o homem mais feio da cidade – o que bem pode ter contribuído.
- Quer um drinque? – perguntei.
- Claro, por que não?
Não creio que houvesse nada de especial na conversa que tivemos essa noite. Foi mais a impressão que causava. Tinha me escolhido e ponto final. Sem a menor coação. Gostou da bebida e tomou várias doses. Não parecia ser de maior idade, mas, não sei como, ninguém se recusava a servi-la. Talvez tivesse carteira de identidade falsa, sei lá. O certo é que toda vez que voltava do toalete para sentar do meu lado, me dava uma pontada de orgulho. Não só era a mais linda mulher da cidade como também das mais belas que vi em toda a minha vida. Passei-lhe o braço pela cintura e dei-lhe um beijo.
- Me acha bonita? – perguntou.
- Lógico que acho, mas não é só isso…. é mais que uma simples questão de beleza…
- As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?
- Bonita não é bem o termo, e nem te faz justiça.
Cass meteu a mão na bolsa. Julguei que estivesse procurando um lenço. Mas tirou um longo grampo de chapéu. Antes que pudesse impedir, já tinha espetado o tal grampo, de lado, na ponta do nariz. Senti asco e horror.
Ela me olhou e riu.
- E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?
Puxei o grampo, estancando o sangue com o lenço que trazia no bolso. Diversas pessoas, inclusive o sujeito que atendia no balcão, tinham assistido a cena. Ele veio até a mesa:
- Olha – disse para Cass, – se fizer isso de novo, vai ter que dar o fora. Aqui ninguém gosta de drama.
- Ah, vai te foder, cara!
- É melhor não dar mais bebida para ela – aconselhou o sujeito.
- Não tem perigo – prometi.
- O nariz é MEU – protestou Cass, – faço dele o que bem entendo.
- Não faz, não – retruquei, – por que isso me dói.
- Quer dizer que eu cravo o grampo no nariz e você é que sente dor?
- Sinto, sim. Palavra.
- Está bem, pode deixar que eu não cravo mais. Fica sossegado.
Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traía sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.
Deitamos na cama e, depois que apaguei a luz, Cass perguntou:
- Quando é que você quer transar? Agora ou amanhã de manhã?
- Amanhã de manhã – respondi, – virando de costas para ela.
No dia seguinte me levantei e fiz dois cafés. Levei o dela na cama.
Deu uma risada.
- Você é o primeiro homem que conheço que não quis transar de noite.
- Deixa pra lá – retruquei, – a gente nem precisa disso.
- Não, pára aí, agora me deu vontade. Espera um pouco que não demoro.
Foi até o banheiro e voltou em seguida, com uma aparência simplesmente sensacional – os longos cabelos pretos brilhando, os olhos e a boca brilhando, AQUILO brilhando… Mostrava o corpo com calma, como a coisa boa que era. Meteu-se embaixo do lençol.
- Vem de uma vez, gostosão.
Deitei na cama.
Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.
- Qual é o teu nome? – perguntei.
- Porra, que diferença faz? – replicou.
Ri e continuei metendo. Mais tarde se vestiu e levei-a de carro de novo para o bar. Mas não foi nada fácil esquecê-la. Eu não andava trabalhando e dormi até às 2 da tarde. Depois levantei e li o jornal. Estava sentado na banheira quando ela entrou com uma folhagem grande na mão – uma folha de inhame.
- Sabia que ia te encontrar no banho – disse, – por isso trouxe isto aqui para cobrir esse teu troço aí, seu nudista.
E atirou a folha de inhame dentro da banheira.
- Como adivinhou que eu estava aqui?
- Adivinhando, ora.
Chegava quase sempre quando eu estava tomando banho. O horário podia variar, mas Cass raramente se enganava. E tinha todos os dias a folha de inhame. Depois a gente trepava.
Houve uma ou duas noites em que telefonou e tive que ir pagar a fiança para livrá-la da detenção por embriaguez ou desordem.
- Esses filhos da puta – disse ela, – só porque pagam umas biritas pensam que são donos da gente.
- Quem topa o convite já está comprando barulho.
- Imaginei que estivessem interessados em MIM e não apenas no meu corpo.
- Eu estou interessado em você e TAMBÉM no teu corpo. Mas duvido muito que a maioria não se contente com o corpo.
Me ausentei seis meses da cidade, vagabundeei um pouco e acabei voltando. Não esqueci Cass, mas a gente havia discutido por algum motivo qualquer e me deu vontade de zanzar por aí. Quando cheguei, supus que tivesse sumido, mas nem fazia meia hora que estava sentado no West End Bar quando entrou e veio sentar do meu lado.
- Como é, seu sacana, pelo que vejo você já voltou.
Pedi bebida para ela. Depois olhei. Estava com um vestido de gola fechada. Cass jamais tinha andado com um traje desses. E logo abaixo de cada olheira, espetados, havia dois grampos com ponta de vidro. Só dava para ver as pontas, mas os grampos, virados para baixo, estavam enterrados na carne do rosto.
- Porra, ainda não desistiu de estragar tua beleza?
- Que nada, seu bobo, agora é moda.
- Pirou de vez.
- Sabe que senti saudade? – comentou.
- Não tem mais ninguém no pedaço?
- Não, só você. Mas agora resolvi dar uma de puta. Cobro dez pratas. Pra você, porém, é de graça.
- Tira esses grampos daí.
- Negativo. É moda.
- Estão me deixando chateado.
- Tem certeza?
- Claro que tenho, pô.
Cass tirou os grampos devagar e guardou na bolsa.
- Por que é que faz tanta questão de esculhambar o teu rosto? – perguntei. – Quando vai se conformar com a idéia de ser bonita?
- Quando as pessoas pararem de pensar que é a única coisa que eu sou. Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão.
- Então tá. Sorte minha, né?
- Não que você seja feio. Os outros é que acham. Até que a tua cara é bacana.
- Muito obrigado.
Tomamos outro drinque.
- O que anda fazendo? – perguntou.
- Nada. Não há jeito de me interessar por coisa alguma. Falta de ânimo.
- Eu também. Se você fosse mulher, podia ser puta.
- Acho que não ia gostar de um contato tão íntimo com tantos caras desconhecidos. Acaba enchendo.
- Puro fato, acaba enchendo mesmo. Tudo acaba enchendo.
Saímos juntos do bar. Na rua as pessoas ainda se espantavam com Cass. Continuava linda, talvez mais do que antes.
Fomos para o meu endereço. Abri uma garrafa de vinho e ficamos batendo papo. Entre nós dois a conversa sempre fluía espontânea. Ela falava um pouco, eu prestava atenção, e depois chegava a minha vez. Nosso diálogo era sempre assim, simples, sem esforço nenhum. Parecia que tínhamos segredos em comum. Quando se descobria um que valesse a pena, Cass dava aquela risada – da maneira que só ela sabia dar. Era como a alegria provocada por uma fogueira. Enquanto conversávamos, fomos nos beijando e aproximando cada vez mais. Ficamos com tesão e resolvemos ir para a cama. Foi então que Cass tirou o vestido de gola fechada e vi a horrenda cicatriz irregular no pescoço – grande e saliente.
- Puta que pariu, criatura – exclamei, já deitado. – Puta que pariu. Como é que você foi me fazer uma coisa dessas?
- Experimentei uma noite, com um caco de garrafa. Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita?
Puxei-a para a cama e dei-lhe um beijo na boca. Me empurrou para trás e riu.
- Tem homens que me pagam as dez pratas, aí tiro a roupa e desistem de transar. E eu guardo o dinheiro pra mim. É engraçadíssimo.
- Se é – retruquei, – estou quase morrendo de tanto rir… Cass, sua cretina, eu amo você… mas pára com esse negócio de querer se destruir. Você é a mulher mais cheia de vida que já encontrei.
Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem.
Na manhã seguinte acordei com Cass já em pé, preparando o café. Dava impressão de estar perfeitamente calma e feliz. Até cantarolava. Fiquei ali deitado, contente com a felicidade dela. Por fim veio até a cama e me sacudiu.
- Levanta, cafajeste! Joga um pouco de água fria nessa cara e nessa pica e vem participar da festa!
Naquele dia convidei-a para ir à praia de carro. Como estávamos na metade da semana e o verão ainda não havia chegado, encontramos tudo maravilhosamente deserto. Ratos de praia, com a roupa em farrapos, dormiam espalhados pelo gramado longe da areia. Outros, sentados em bancos de pedra, dividiam uma garrafa de bebida tristonha. Gaivotas esvoaçavam no ar, descuidadas e no entanto aturdidas. Velhinhas de seus 70 ou 80 anos, lado a lado nos bancos, comentavam a venda de imóveis herdados de maridos mortos há muito tempo, vitimados pelo ritmo e estupidez da sobrevivência. Por causa de tudo isso, respirava-se uma atmosfera de paz e ficamos andando, para cima e para baixo, deitando e espreguiçando-nos na relva, sem falar quase nada. Com aquela sensação simplesmente gostosa de estar juntos. Comprei sanduíches, batata frita e uns copos de bebida e nos deixamos ficar sentados, comendo na areia. Depois me abracei a Cass e dormimos encostados um no outro durante quase uma hora. Não sei por quê, mas foi melhor do que se tivéssemos transado. Quando acordamos, voltamos de carro para onde eu morava e fiz o jantar. Jantamos e sugeri que fôssemos para a cama. Cass hesitou um bocado de tempo, me olhando, e aí respondeu, pensativa:
- Não.
Levei-a outra vez até o bar, paguei-lhe um drinque e vim-me embora. No dia seguinte encontrei serviço como empacotador numa fábrica e passei o resto da semana trabalhando. Andava cansado demais para cogitar de sair à noite, mas naquela sexta-feira acabei indo ao West End Bar. Sentei e esperei por Cass. Passaram-se horas. Depois que já estava bastante bêbado, o sujeito que atendia no balcão me disse:
- Uma pena o que houve com sua amiga.
- Pena por quê? – estranhei.
- Desculpa. Pensei que soubesse.
- Não.
- Se suicidou. Foi enterrada ontem.
- Enterrada? – repeti.
Estava com a sensação de que ela ia entrar a qualquer momento pela porta da rua. Como poderia estar morta?
- Sim, pelas irmãs.
- Se suicidou? Pode-se saber de que modo?
- Cortou a garganta.
- Ah. Me dá outra dose.
Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter INSISTIDO para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele “não”. Todo o seu jeito era de quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais. Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para quê pôr a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garota mais linda da cidade, morta aos vinte anos.
Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:
- MERDA! PÁRA COM ISSO, SEU FILHO DA PUTA!
A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada.

Porque a aliança é usada no quarto dedo?

Posted: domingo, 11 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in
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Uma lenda chinesa conseguiu explicar de uma maneira bonita e muito convincente:
Os polegares representam os pais. Os indicadores representam teus irmãos e amigos. O dedo médio representa a você mesmo. O dedo anelar (quarto dedo) representa o seu cônjuge. O dedo mindinho representa seus filhos. Agora junte suas mãos palma com palma, depois, une os dedos médios de forma que fiquem apontando a você mesmo, como na imagem….
Agora tenta separar de forma paralela seus polegares (representam seus pais) você vai notar que eles se separam porque seus pais não estão destinados a viver com você até o dia da sua morte, una os dedos novamente.
Agora tenta separar igualmente os dedos indicadores (representam seus irmãos e amigos), você vai notar que também se separam porque eles se vão, e tem destinos diferentes como se casar e ter filhos.
Tente agora separar da mesma forma os dedos mindinhos (representam seus filhos) estes também se abrem porque seus filhos crescem e quando já não precisam mais de nós se vão, una os dedos novamente.
Finalmente, tente separar seus dedos anelares (o quarto dedo que representa seu cônjuge) e você vai se surpreender ao ver que simplesmente não consegue separá-los. Isto se deve ao fato de que um casal está destinado a estar unido até o último dia da sua vida, e é por isso que o anel se usa neste dedo.

Que seja eterno enquanto dure. É, enquanto dure. E tomara que dure. Eu espero que dure.

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É tudo tão doce quanto os halls de cereja. Tão ácido quanto uma ressaca. Tão azul quanto o céu e tão suave quanto o vento soprando nos meus olhos cheios de lágrimas, deitada sob o sol das 4 da tarde. Um outono morno embaixo dos pinhos onde o sol nunca bateu. O intervalo entre a lucidez e a maldade. Um garoto inteligente e uma garota esperta. Uma garrafa de vodka e 200 cigarros. Uma jaqueta jeans e uma blusa de flanela. Dois espíritos jovens e elétricos. E o mundo. Um momento breve e surreal. Surreal. A palavra certa.
Não sei quanto tempo durou toda essa confusão, que passa em modo repeat na minha mente. Eu só sei que será eterno. Que seja eterno enquanto dure. É, enquanto dure. E tomara que dure. Eu espero que dure. E enquanto o cansaço da minha mente me obriga a descansar, a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito¹.
Que seja eterno enquanto dure. É, enquanto dure. E tomara que dure. Eu espero que dure.

Vai durar e imperecer.


Nota:
1. Trecho da música Pro dia nascer feliz - Cazuza.

Amor é importante, porra.

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Nada melhor do que um palavrão pra começar um texto. Essa vontade de xingar vem desde cedo, com a liberdade de expressão que adotei desde os tempos em que eu nem sabia o que era isso. Mas não é sobre palavrão que vou falar, é sobre amor. A palavra que veio antes do palavrão. Eu não quero nem pensar em amor, mas mesmo assim penso e os digo uma coisa, amar é deprimente. Eu amo, mas se pudesse trocava meu coração por um fígado. Toda essa revolta não é pelo objeto amado (o objeto é digno de muito amor, todo o amor que houver nessa vida...), e sim pelo sentimento em si. Parando pra analisar, amar é uma merda. Acaba com a sua sanidade, corrompe toda a sua moral. Te faz andar por duas horas sem nada no estômago só pra ficar cinco minutos. Amar adoece, emburrece, desmoraliza... e cativa. Minha conclusão é que amor só é bom quando a gente faz (os fortes entenderão), mas quando acontece... Amar é uma merda. Mas é o que ainda nos mantém vivos.

Uma vontade imensa de explodir o mundo...

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E ao mesmo tempo de abraçá-lo. Veneno escorre nas minhas veias. Estou no meu quarto, com os fones de ouvido, ouvindo bikini kill BEM ALTO, tão alto quanto a impressão que as letras em caixa alta dão. Ninguém pode me parar agora.

Shiny boots of leather

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"Shiny shiny, shiny boots of leather." Me sinto num daqueles sonhos que tenho acordada, sentada em um sofá de couro off-white, sentindo cheiro de tinta plástica. Levanto e ando pelo ambiente, lotado de quadros inacabados, até topar com uma tela para serigrafia que machuca minha canela. Procurando outro caminho, encontro uma janela escondida sob a cortina branca, que vai do teto até o chão. Olho e vejo New York, ardendo. Me sinto como Edie Sedgwick.

Platônico

Posted: sábado, 10 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in Marcadores: ,
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- Já ouviu falar em amor platônico?
- Que eu saiba já. É aquele amor quase impossível, não correspon...
- É bem por aí, é mais ou menos isso. Mas eu tenho outra teoria, acho que Platão pensou diferente.
- Então conta a sua teoria.
- Bom, pensa assim... Existe uma pessoa que está e ao mesmo tempo não está procurando alguém, e ela procura alguém com tais características. Ao mesmo tempo, em qualquer outro lugar do mundo, a pessoa que está sendo procurada procura alguém com as mesmas características dessa pessoa que a procura... Entendeu?
- Tá, mas o nome disso não é "alma gêmea"?
- Sim, mas você ainda não entendeu bem. Eu disse que em qualquer lugar do mundo essa outra pessoa estaria. Imagina só a grandeza que é o mundo, e o tanto de gente que tem nele. Agora imagina a possibilidade dessas duas pessoas se encontrarem. Encontrar essa pessoa é como ganhar na loteria.
- Que coisa...
- Sabe o que eu acho sobre isso?
- O quê?
- Que nós ganhamos nessa tal loteria do Platão.

Posted: domingo, 4 de setembro de 2011 by Fernanda Thavellik. in
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